Saúde mental em alerta: especialista explica problemas gerados com o excesso de aparelhos tecnológicos
De acordo com dados do Panorama da Saúde Mental 2024, 45% dos casos de ansiedade em jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intensivo de redes sociais
Na era digital, o avanço da tecnologia tem facilitado o acesso à informação e a resolução de problemas. No entanto, paradoxalmente, esse progresso pode representar tanto um benefício quanto um risco para a saúde mental. Isso porque, se por um lado o uso da tecnologia traz ganhos para todos, por outro, o uso excessivo de dispositivos tecnológicos pode desencadear sérios problemas psicológicos, afetando a saúde mental e até levando ao vício.
De acordo com a psicóloga e professora do Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG), Anna Carolina, do ponto de vista da neuropsicologia, a rapidez com que o estímulo é processado pelo cérebro pode ser prejudicial. “O cérebro humano possui estruturas e funções distribuídas por áreas que controlam a atenção, memória e emoções, e essas áreas comumente são ativadas por fatores externos. Na vida cotidiana, as respostas do cérebro são gradativas, acompanhando o processamento das informações, o que permite tempo para reflexão e adaptação. No entanto, no mundo digital, os estímulos são rápidos e intensos, resultando em respostas igualmente rápidas e com poucos recursos adaptativos. Isso sobrecarrega o córtex pré-frontal, responsável pela filtragem das informações e pelo controle de impulsos”, destaca.
Já os efeitos negativos podem incluir a diminuição da capacidade de concentração e foco, além de aumentar a impulsividade. O excesso de estímulos digitais também pode elevar os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, contribuindo para o desenvolvimento de quadros de ansiedade e fadiga mental.
Entre os mais afetados pelo excesso de telas estão os adolescentes, jovens e até crianças. De acordo com dados do Panorama da Saúde Mental 2024, estudo realizado pelo Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, 45% dos casos de ansiedade em jovens de 15 a 29 anos estão relacionados ao uso intensivo de redes sociais.
“Durante esses períodos de desenvolvimento, o cérebro está em formação, e a exposição excessiva a estímulos digitais pode prejudicar a maturação das estruturas cerebrais. O cérebro atinge sua maturidade aos 25 anos, e, até esse momento, o constante bombardeio de estímulos tecnológicos pode afetar áreas como o controle de impulsos e a tolerância à frustração. Isso pode levar a comportamentos impulsivos e à busca constante por recompensas instantâneas, características do ambiente digital. Além disso, a exposição excessiva à tecnologia pode promover uma busca por dopamina, o neurotransmissor relacionado ao prazer, criando um ciclo de dependência e dificultando a resiliência emocional”, alerta a especialista.
Anna Carolina ainda alerta sobre o uso exagerado das redes sociais e as consequências que se estendem para a saúde emocional. “O uso excessivo das redes sociais pode ter efeitos prejudiciais sobre a saúde mental. Esse uso ativa áreas do cérebro associadas à comparação social, o que pode aumentar sentimentos de inadequação e rejeição. Além disso, experiências negativas no ambiente digital, como exclusão ou cyberbullying, podem ativar áreas do cérebro envolvidas no processamento da dor emocional. O constante ciclo de prazer e frustração das redes sociais também pode desregular a liberação de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, o que contribui para o desenvolvimento de sintomas de ansiedade e depressão ao longo do tempo”, relata.
Apesar dos riscos, é possível usar a tecnologia de forma saudável. A docente conclui explicando quais práticas são recomendadas para que isso ocorra. “Sim, é possível usar a tecnologia de forma equilibrada, minimizando os impactos negativos sobre o cérebro e a saúde mental. Algumas práticas recomendadas incluem: limitar o tempo de tela e evitar o uso excessivo de redes sociais; evitar o uso de telas antes de dormir, pois a luz emitida pelos dispositivos interfere na produção de melatonina; priorizar interações sociais presenciais, promovendo conversas face a face que fortaleçam as conexões neurais ligadas à empatia e à interpretação emocional. Estabelecer ‘pausas digitais’ ao longo do dia, praticando atividades offline como meditação, exercícios físicos ou outras atividades relaxantes, para reduzir a sobrecarga cognitiva”.
Fique atento aos sinais de dependência tecnológica e, caso surjam, procure a ajuda de um especialista.
- Dificuldade em controlar o tempo de uso;
- Irritabilidade ao tentar reduzir o uso e uma constante busca por estímulos digitais;
- Prejuízos às funções cognitivas, como a capacidade de concentração e a memória;
- Problemas com o bem-estar emocional, levando a sintomas como ansiedade, depressão e insônia.
Assessoria de Imprensa
Alyne Monyque