Madeira do Rosarinho, Lenine e Carmen Virgínia são os homenageados do Carnaval 2026
Tradição, ancestralidade e louvor à musicalidade recifense dão o tom do reconhecimento a quem se faz presente na folia do maior Carnaval em linha reta do Brasil
A muitas mãos e de muitos saberes são construídos os brinquedos que fazem da festa recifense o maior festival de cultura popular a céu aberto do país. E para reverenciar os fabricantes que mantêm viva a chama momesca que a Prefeitura do Recife anuncia os homenageados do Carnaval 2026: o cantor Lenine, a iabassê Carmen Virgínia e o Bloco Carnavalesco Misto Madeira do Rosarinho, que completa 100 anos em 2026.
“Existem muitos artistas que remetem diretamente ao Carnaval do Recife mas que, ao contrário da percepção popular, ainda não foram homenageados oficialmente, como Elba Ramalho no ano passado, e Lenine esse ano, por exemplo. Figuras que já são parte integral da cultura da nossa cidade e que sentimos que é um dever institucional nosso, como gestão municipal, prestar esse tributo”, explicou o prefeito João Campos. “Madeira do Rosarinho, que completa 100 anos, numa marca especial. E Carmen Virgínia, com a sua história e tradição, trazendo a mistura da fé com a cultura, que é uma marca própria do Carnaval, presente também. Então, é uma alegria ter essas três entidades sendo representadas e homenageadas no maior e melhor Carnaval do mundo, que é o do Recife”, afirmou.
Lendário, o Madeira do Rosarinho vai completar 100 anos em 2026 e encabeça o imaginário da festa graças a seu hino emblemático que evoca a luta e resistência de um povo aguerrido. Inconformados com o resultado de um concurso carnavalesco na década de 60, a canção se tornou um desabafo dos descontentes que superou a vendeta e se provou maior que a história, pois a música é símbolo não só de folia, mas de perseverança. “É um grande merecimento. Eu não estou nem acreditando, é uma alegria e também uma satisfação da comunidade, das pessoas que frequentam o clube, que ficarão muito alegres de saber que Madeira do Rosarinho é um dos homenageados desse carnaval”, falou Duca, representante do grupo.
Lenine, nosso Leão do Norte, é figura obrigatória no Carnaval do Recife. Abraça a multidão e desfila seu repertório de hits que enaltecem a cultura de seu torrão natal, sempre lembrado em sua obra autoral de uma longeva carreira de mais de três décadas de bons serviços prestados à música recifense e brasileira. “Eu me sinto homenageado todo ano. A cada ano eu trago pessoas que nunca conheceram o Carnaval do Recife, artistas e músicos com o intuito de conhecer a cidade quando ela está respirando o morro e vivenciando isso. Faço isso há muitos anos e, para mim, é sempre uma homenagem, porque venho com família, netos, filhos, com tudo. Sempre preparo um show especial, não só no Marco Zero, mas também em outros polos muito interessantes. Eu me sinto realmente homenageado sempre que estou aqui no Carnaval, e este ano vai ser uma consagração, pois se trata de outro momento na minha vida”, disse o cantor.
Carmen Virgínia, por sua vez, se integra à festa como preservadora de saberes ancestrais ligados à gastronomia e ao Afoxé Ogbon Obá. Ela também participou como fundadora, em 2018, da primeira edição do Ubuntu, encontro de Afoxés que abençoa a festa e reúne as agremiações em uma cerimônia religiosa que converge para o Marco Zero após a lavagem da Avenida Rio Branco na quarta-feira da semana pré. “Eu acho que é também uma vitória das mulheres de terreiro, mas é uma vitória das mulheres. De certa forma, eu vim das donas de casa. Eu sou uma cozinheira, neta de merendeira. Isso tem muita importância para aquela mulher que consegue alimentar os seus filhos, que sai de casa cedo, que luta. Eu sou essa mulher, e elas podem se sentir presentes também nessa homenagem. Como carreira, eu só tenho 15 anos de profissão, mas a minha vida toda eu tive um exemplo, que foi a minha avó, servidora pública dessa cidade. Eu nasci nas ruas de Santo Amaro e estou muito feliz, me sentindo privilegiada e emocionada, porque é muito importante a gente acreditar em Deus, nos orixás e na gente mesmo. Esse ano, os homenageados do Carnaval, assim como o Carnaval do meu Recife, vai ter um gostinho a mais, panelas e cheirinho de comida, porque é isso que eu trago. Axé. Viva o Carnaval”, comemorou a artista.
“A escolha dos homenageados sempre atende a critérios de representatividade e deferência para evidenciar as pessoas e entidades que promovem a festa, que é de todos e feita pelo folião e para o folião”, opinou Milu Megale, secretária de Cultura do Recife.

Madeira do Rosarinho – Um dos mais tradicionais blocos carnavalescos a desfilar as alegrias e tradições recifenses pelas ruas do maior e mais democrático Carnaval do Brasil, o Madeira do Rosarinho foi fundado no dia 7 de setembro de 1926, como uma dissidência do antigo bloco Inocentes do Rosarinho.

Com mais de 20 prêmios conquistados no tradicional Concurso de Agremiações, realizado pela Prefeitura do Recife, há muitas décadas, o bloco desfila todo ano sua alegria vermelha, branca e verde na festa da capital pernambucana, abrindo alas para um dos mais célebres hinos do Carnaval recifense: “Madeira que Cupim não Rói”, composta por ninguém menos que Capiba, nos idos de 1963. Mostrando a fama de seu pessoal e trazendo seu estandarte tão original, Madeira do Rosarinho confirma que o Carnaval no Recife é o encontro da história com a alegria e da insurreição com a esperança, para avisar ao futuro que a cultura de um povo é sua raiz mais funda: nunca tem fim.
Carmen Virgínia – A recifense Dona Carmem Virgínia é chef, iabassê do Afoxé Ogbon Obá e referência na preservação dos saberes afro-brasileiros no Recife. À frente do Altar Cozinha Ancestral, localizado em Santo Amaro, área central da cidade e reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial, ela transforma memória, fé e técnica culinária em agenda pública de identidade e inclusão.
Ela é idealizadora do Ubuntu, celebração afro-religiosa que antecede a abertura oficial do Carnaval do Recife e reúne grupos de afoxé em um grande rito de purificação e agradecimento aos orixás. A programação começa às 6h, com a preparação do banho de ervas, e segue à tarde com a lavagem da Avenida Rio Branco com as águas de Oxalá. O cortejo conduz foliões até o Marco Zero em ritual de purificação. Integrado à agenda oficial da Prefeitura do Recife, o Ubuntu homenageia defensores da cultura negra e reforça a ligação entre tradições afro-religiosas e a preservação ambiental.
Lenine – Cria do bairro da Boa Vista, onde o Recife aprendeu a brincar Carnaval, Oswaldo Lenine Macedo Pimentel é um carnavalesco de nascença, que viria a se confirmar um dos mais celebrados e profícuos artistas de sua geração e de todos os tempos da música pernambucana, nas ruas coloridas e suadas das mais autênticas tradições de seu povo.
Filho de família amorosa, numerosa, politizada e musical, aprendeu cedo a celebrar a vida em verso e prosa, acorde e refrão. Fazendo do violão um aliado contra a timidez, o jovem que trocou a faculdade de engenharia química pelos palcos cresceu junto com a vontade de cantar e encantar a cidade que sempre foi sua menina dos olhos de mar, a quem deu o coração, um bocado de orgulho e alguns de seus mais evocados refrões. Reconhecido em todo o Brasil e até fora dele, sagrou-se Lenine, “cantautor” profícuo e incansável, que já ganhou seis vezes o Grammy Latino, por algumas de suas mais de 250 composições, que fazem bater cada dia mais forte o coração do folclore nordestino.
Fotos: TV Conecta
Assessoria de Imprensa
